Conta-se esta história acerca de uma missão do Banco Mundial que se deslocou a Madagáscar para analisar o uso dos recursos piscatórios:
Um dos peritos que integrava a missão observava diariamente um pescador local. O pescador todos os dias pegava na cana, dirigia-se ao mar e pescava um peixe. Depois de pescado o primeiro peixe voltava para casa, grelhava-o, comia-o e durante o resto do dia descansava e aproveitava o sol. Certo dia o perito dirigiu-se ao pescador e comentou o facto de ele pescar um único peixe por dia, explicando que, ao invés de pescar apenas um, podia pescar mais durante o resto do dia. Como só comia um, o excedente do peixe podia ser vendido. O pescador perguntou, então, para que queria ele pescar mais peixe e vendê-lo. O perito disse que com esse dinheiro podia comprar uma rede e com essa rede, no mesmo tempo podia pescar muito mais peixe e vendê-lo para comprar um barco. Com o barco pescava ainda mais peixe e podia comprar um motor para o barco, e por aí fora, seguindo sempre esta lógica do excedente. O pescador, depois de o ouvir perguntou então para que precisava ele daquilo tudo e o perito respondeu-lhe que era para que quando fosse velho pudesse finalmente descansar à sombra dos proveitos que havia auferido. Responde magistralmente o pescador: mas isso é o que eu faço agora todos os dias.
Não me parece ser preciso dizer a moral da história.
11/28/2008
11/11/2008
desabafo
Oscilo entre uma insatisfação crónica na minha vida e uma falta de ambição que não percebo. Tudo está aquém do que deveria estar. Tudo. E nem sequer queria que estivesse tão alto. Boring...A culpa é minha. Preciso de acordar.
11/02/2008
Hoje, no Público
25.10.2008 - 17h17 David Marçal
Sabia que há cientistas que ganham 745 euros? Que não têm direito a subsídio de desemprego, férias, Natal ou alimentação? Que não são aumentados há seis anos? Está naturalmente curioso de saber em que país, mas estou certo de que já adivinhou.São os bolseiros de investigação científica! Uma designação infeliz para os jovens (e menos jovens) investigadores, pois classifica-os pelo tipo de regime contratual com que exercem funções, secundarizando a natureza da actividade (investigação). Faz tanto sentido como descrever um juiz como um "assalariado da justiça".
Os bolseiros podem-se distinguir segundo o tipo de bolsa que têm. Os BIC (bolsa de investigação científica) são licenciados e, independentemente da sua experiência ou competências, ganham 745 euros. Os BD (bolsa de doutoramento) têm em geral um excelente percurso académico e científico (não é fácil ganhar a bolsa!), são investigadores experientes e motivados, ganham 980 euros. O mesmo valor desde 2002, o que representa face à inflação acumulada uma perda de 18 por cento do poder de compra.
Pode-se argumentar que os bolseiros "estão em formação" e que "já é uma sorte estarem a ser pagos". Mas trata-se de adultos (uma licenciatura não se acaba antes dos 22-23 anos) com contas para pagar e legítimo direito à emancipação (ou um cientista tem que viver em casa dos pais?). E quanto à formação, creio que qualquer bom profissional está sempre em formação. Todas as carreiras têm fases e o doutoramento é apenas uma fase da carreira de um cientista.
Os bolseiros têm direito ao chamado "seguro social voluntário" - que é uma espécie de não sei o quê. Basicamente, a entidade que concede a bolsa paga contribuições para a Segurança Social, equivalentes ao salário mínimo. Este é o regime pelo qual estão abrangidas as pessoas que não têm rendimentos. Por que raio enfiaram os jovens investigadores aqui? Fazendo o Governo gala de integrar todas as classes profissionais no regime geral de Segurança Social, que coerência tem não incluir os bolseiros? Esta reivindicação tem sido sucessivamente negada pela tutela. Para que não haja dúvidas: os jovens investigadores querem ser integrados num regime de Segurança Social que outros grupos profissionais não querem porque acham que é mau!
Penso que é necessário criar a percepção social deste problema e da necessidade de evolução, começando pelos próprios investigadores e professores do quadro que trabalham com bolseiros que beneficiam do seu trabalho, com quem publicam artigos e escrevem patentes. Creio que seria de todo justo e adequado que os cientistas e investigadores estabelecidos tomassem pública e politicamente o partido dos jovens investigadores. A alternativa é continuar o choradinho da fuga de cérebros. Não há fuga de cérebros. Há expulsão de cérebros. Se não fazem falta, isso é outra história. Mas sendo assim, digam.
*Investigador em bioquímica. Bolseiro durante seis anos"
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