11/28/2008

A propósito de capitalismo

Conta-se esta história acerca de uma missão do Banco Mundial que se deslocou a Madagáscar para analisar o uso dos recursos piscatórios:

Um dos peritos que integrava a missão observava diariamente um pescador local. O pescador todos os dias pegava na cana, dirigia-se ao mar e pescava um peixe. Depois de pescado o primeiro peixe voltava para casa, grelhava-o, comia-o e durante o resto do dia descansava e aproveitava o sol. Certo dia o perito dirigiu-se ao pescador e comentou o facto de ele pescar um único peixe por dia, explicando que, ao invés de pescar apenas um, podia pescar mais durante o resto do dia. Como só comia um, o excedente do peixe podia ser vendido. O pescador perguntou, então, para que queria ele pescar mais peixe e vendê-lo. O perito disse que com esse dinheiro podia comprar uma rede e com essa rede, no mesmo tempo podia pescar muito mais peixe e vendê-lo para comprar um barco. Com o barco pescava ainda mais peixe e podia comprar um motor para o barco, e por aí fora, seguindo sempre esta lógica do excedente. O pescador, depois de o ouvir perguntou então para que precisava ele daquilo tudo e o perito respondeu-lhe que era para que quando fosse velho pudesse finalmente descansar à sombra dos proveitos que havia auferido. Responde magistralmente o pescador: mas isso é o que eu faço agora todos os dias.

Não me parece ser preciso dizer a moral da história.

11/11/2008

desabafo

Oscilo entre uma insatisfação crónica na minha vida e uma falta de ambição que não percebo. Tudo está aquém do que deveria estar. Tudo. E nem sequer queria que estivesse tão alto. Boring...A culpa é minha. Preciso de acordar.

11/02/2008

Hoje, no Público

"Cientistas em saldos
25.10.2008 - 17h17 David Marçal
Sabia que há cientistas que ganham 745 euros? Que não têm direito a subsídio de desemprego, férias, Natal ou alimentação? Que não são aumentados há seis anos? Está naturalmente curioso de saber em que país, mas estou certo de que já adivinhou.

São os bolseiros de investigação científica! Uma designação infeliz para os jovens (e menos jovens) investigadores, pois classifica-os pelo tipo de regime contratual com que exercem funções, secundarizando a natureza da actividade (investigação). Faz tanto sentido como descrever um juiz como um "assalariado da justiça".

Os bolseiros podem-se distinguir segundo o tipo de bolsa que têm. Os BIC (bolsa de investigação científica) são licenciados e, independentemente da sua experiência ou competências, ganham 745 euros. Os BD (bolsa de doutoramento) têm em geral um excelente percurso académico e científico (não é fácil ganhar a bolsa!), são investigadores experientes e motivados, ganham 980 euros. O mesmo valor desde 2002, o que representa face à inflação acumulada uma perda de 18 por cento do poder de compra.

Pode-se argumentar que os bolseiros "estão em formação" e que "já é uma sorte estarem a ser pagos". Mas trata-se de adultos (uma licenciatura não se acaba antes dos 22-23 anos) com contas para pagar e legítimo direito à emancipação (ou um cientista tem que viver em casa dos pais?). E quanto à formação, creio que qualquer bom profissional está sempre em formação. Todas as carreiras têm fases e o doutoramento é apenas uma fase da carreira de um cientista.

Os bolseiros têm direito ao chamado "seguro social voluntário" - que é uma espécie de não sei o quê. Basicamente, a entidade que concede a bolsa paga contribuições para a Segurança Social, equivalentes ao salário mínimo. Este é o regime pelo qual estão abrangidas as pessoas que não têm rendimentos. Por que raio enfiaram os jovens investigadores aqui? Fazendo o Governo gala de integrar todas as classes profissionais no regime geral de Segurança Social, que coerência tem não incluir os bolseiros? Esta reivindicação tem sido sucessivamente negada pela tutela. Para que não haja dúvidas: os jovens investigadores querem ser integrados num regime de Segurança Social que outros grupos profissionais não querem porque acham que é mau!

Penso que é necessário criar a percepção social deste problema e da necessidade de evolução, começando pelos próprios investigadores e professores do quadro que trabalham com bolseiros que beneficiam do seu trabalho, com quem publicam artigos e escrevem patentes. Creio que seria de todo justo e adequado que os cientistas e investigadores estabelecidos tomassem pública e politicamente o partido dos jovens investigadores. A alternativa é continuar o choradinho da fuga de cérebros. Não há fuga de cérebros. Há expulsão de cérebros. Se não fazem falta, isso é outra história. Mas sendo assim, digam.

*Investigador em bioquímica. Bolseiro durante seis anos"

10/09/2008

Revoltem-se!

Professores de Portugal, revoltem-se!! Tornem-se pastores!!
Ser pastor é bem melhor!
Mostrem ao governo que preferem
estar à mercê do clima e das ervas dos pastos,
do que das leis deles!
Mostrem aos pais que não sabem dar educação aos filhos
que preferem aturar um rebanho de cabras
do que aturar os seus rebentos mal-educados!
Mostrem que uma cabra ou uma ovelha
que não sabendo o que é castigo
sabem o que é obediência!
O pastor sempre tem um cão para pôr o rebanho na ordem!
Não vos soa bem? Professores?
Pensem no ar puro e limpo!
No silêncio à volta!
Mesmo o berrar das cabras é menos traumatizante
do que os berros e guinchos de 20 crianças sem noção de respeito.
Sejam pastores! Tornem-se todos pastores!
Não há melhor revolta!
Acabam-se as baixas psiquiátricas!
As burocracias!
Acaso há algum relatório a preencher quando se põe a cabra de novo no rebanho?
Acaso têm que pedir desculpa à cabra?
E esta, ri-se de vocês?
Ou diz-vos que os papás vão à serra ralhar com vocês?
Não vos soa bem, professores?
Tornem-se pastores!

8/19/2008

CGTP considera que 1200 empregos anunciados para Santo Tirso podem ser um embuste

Ora aí está uma conclusão acertadíssima. Mais uma vez Sócrates quer fazer de burros os portugueses. Ora aí está ele a criar empregos de m... ( e não me venham com a história de que as pessoas não querem trabalhar, porque quando querem contentam-se com qualquer coisa...) para os escravos da nova era. Não há emprego para os jovens licenciados? Não há reconhecimento de mérito??? Não faz mal, sai um empregozinho precário num call center a ganhar 2,74 €/ hora e a ser chulado durante o tempo que for preciso com pessoas aos berros ao telefone para ser dispensado quando já não precisarem, com um aviso de 8 dias. Desempregados com mestrados e doutoramentos? O que é isso? A estatística só permite números e os números dizem que assim há mais emprego. Lá porque o sr. Sócrates não tem dois dedos de testa não quer dizer que o resto do país não tenha.

8/12/2008

Faço minhas as palavras de...

...Do Portugal Profundo

"Ora, o que se tem passado em Portugal é a alienação desprezível de uma geração de jovens talentos em áreas diversas, que chegaram à vida adulta, formação inicial completada, sonhos e projectos erguidos nas madrugadas de conquista emocional, que depois de sentirem a canga da exploração sistémica, dos comissários dos comissários políticos, dos chefinhos abusadores repressores das iniciativas, do desemprego apesar do valor, decidiram emigrar. Noutros países, de maior liberdade, o seu trabalho é recompensado, os seus projectos acolhidos, o seu valor promovido.

Outros disseram que houve uma geração que votou com os pés. Esta também. Mais solta, todavia, esta não remete divisas para mulheres, filhos e pais, não constrói vivendas na terra, não participa sequer em tertúlias políticas contra a miséria política do Portugal que, aliás, sentirá sempre. Eles sentem, além desse lamento pegajoso antigo, da amargura do desprezo da corrupção, da incompetência da cunha e do absurdo egoísta da falta de solidariedade inter-geracional, Portugal dentro de si. E sentem que são portugueses à solta, com forma diversa de entender o mundo, mais humana e desembaraçada, e que Portugal se pode fazer em qualquer canto de mundo onde haja um português.
O drama, mal compensado pela exportação desse Quinto Império de cultura, é que a maioria desse valor não torna à terra nossa, nem mesmo se o próximo governo tomasse como missão principal reganhar essa geração emigrada, pois encontrou emprego, oportunidade e recompensa, que a obsolescência económica nacional não pode no curto prazo recuperar. Vale a verdade: a maior responsabilidade da nova emigração portuguesa pertence aos governos que desgovernaram a nossa barca.

A pena maior que tenho, e nós que sentimos esse esvair da seiva lusa, é que, agora, diversamente do êxodo anterior, não existe registo em prosa ou poesia da nova emigração portuguesa, que começou a partir em meados dos anos 1990 e cujo fluxo se tem intensificado nos últimos anos. O motivo pode ser a consciência de que não existe apenas a queixa face a uma classe política mais ou menos corrupta que conduziu o País a este quase desfecho da independência em retrocesso - que pressente quem foi avisado pela História -, mas também uma queixa face às gerações douradas que votam precisamente nos líderes da desgraça que, menos mal para elas, lhes garante as reformas de luxo e os empregos seguros.

Mesmo assim, peço aos leitores emigrados que lêm este mundo inteiro dos blogues livres, que ultrapassem essa angústia e nos contem, para vergonha de quem governa e de quem neles vota, a odisseia do seu valor. Para que quem ficou, mais cedo ou mesmo mais tarde, reganhe a consciência da integridade do Povo e da promissão da Pátria." publicado por Do Portugal Profundo

Podem consultar o post inteiro no blog para o qual o link está aqui ao lado.

8/10/2008

Ossétia do Sul

Quem vê a ofensiva militar de Mikheïl Saakachvili na Ossétia do Sul não percebe como é que o processo de desenvolvimento da Geórgia passa pelo uso da força. A questão da Ossétia do Sul é de facto uma pedra no calcanhar da Geórgia mas a educação Ocidental do seu jovem presidente (nos EUA), o combate à corrupção, os planos de desenvolvimento económico e os projectos de entrar para a NATO faziam crer que a via militar seria a última opção, ainda por cima sabendo que teria de enfrentar a Rússia pelo caminho. Mesmo com um exército bem preparado ( Mikheïl Saakachvili investiu na modernização e preparação deste, também) o facto é que estamos a falar da Rússia e basta olhar para os dois países para perceber que dificilmente a Geórgia sairia deste confronto vencedora. Foi também ingénuo pensar que EUA e países europeus entrariam imediatamente numa ofensiva militar deste tipo contra a Rússia, mesmo limitada ao território da Ossétia do Sul. Há, claro a questão do oleoduto que atravessa a Geórgia e que é de interesse para o Ocidente, em caso de conflito com a Rússia mas isso não seria suficiente para que a Europa e os EUA abandonassem a via diplomática. Via essa que, aliás, não deveria ter sido abandonada pelo Presidente da Geórgia.

O que vai por aí...

Os recentes confrontos na Quinta da Fonte (Loures) são sobretudo resultado de uma política de habitação social que concentra pessoas com grandes níveis de pobreza e não de um problema de convivência entre etnias, afirma o ex-ministro Paulo Pedroso." in Público, 10-08-08

De facto a questão do realojamento é um problema bem mais profundo do que parece. Claro que a concentração de pessoas com grandes níveis de pobreza é o mesmo que juntar dinamite num balde e rezar para que nenhum fósforo caia lá dentro. Mas a escolha oposta, que seria integrar estas pessoas separadamente em prédios e em bairros já habitados por outras famílias plenamente integradas é uma boa opção apenas teoricamente. É a velha questão da sala de aula: o que fazer com os maus alunos? Juntá-los todos e separá-los para não perturbarem os bons ou espalhá-los entre os bons, esperando que daí advenha a sua correcção? A má moeda afasta a boa moeda. A questão é que quem viveu durante vinte anos num prédio, sem qualquer problema de vizinhança e perfeitamente integrado na sociedade vê o apartamento ao lado ser habitado por famílias com problemas de criminalidade, sem qualquer tipo de respeito pelos vizinhos do lado, a ocuparem o espaço público de forma desordeira, a ameaçarem a sua família (obviamente, descansem os protectores dos coitadinhos nem todas estas famílias são assim... mas o que estou a descrever é uma situação verídica e repetida...), e a serem sustentados por um sistema social para o qual pessoas que trabalham contribuem, essas pessoas não têm que arcar com os problemas de realojamento. Conheço uma situação em que um prédio inteiro, anteriormente pacato, sofre com os problemas de realojamento de uma só família. Além da questão da desvalorização das casas. As pessoas que compram a casa, compram o pacote todo, inclusivé a vizinhança... se a vizinhança piora o preço do pacote desce. É de facto um grave problema. Mas que tem que ser tratado de fundo, a política de habitação social tem que estar integrada com a política de imigração e com políticas de emprego. Nunca separada.

8/09/2008

A Fórmula de Deus







Li "A Fórmula de Deus" de José Rodrigues dos Santos há umas semanas e li agora "O Sétimo Selo". Fiquei surpreendida pelo conhecimento científico transmitido pelo autor. Desconhecia esta área de interesse do jornalista. Fiquei, no entanto, decepcionada com a escrita em si. Que não é nenhum Kafka nem nenhum Somerset Maugham, era óbvio, mas é desesperante ver o autor afundado em descrições tão básicas como "eram o céu e a terra, o yin e o yang"...De qualquer forma o decorrer da acção consegue prender o leitor e a capacidade do autor descrever teorias de física a leigos como eu ultrapassam a questão da superficialidade da literatura.

6/22/2008

E é esse povo que vejo nos arraiais. Não naqueles para turista ver. Não naqueles onde três sardinhas custam cinco euros. Não naqueles que estão conforme as regras, mas naqueles onde tudo é dado. Onde as sardinhas e as febras ainda abundam sem asae's por perto, onde se oferecem, e o pão e a broa que já alguém ofereceu. E os negócios pequenos que sobrevivem assim.. os goufres, os bares das associações, os cafés pequenos, as bandas de baile... e onde o povo se reencontra. Muitos passado tanto tempo e tanta coisa e são iguais, todos, outra vez. Esse povo fabuloso, extremo, crente. Esse povo que reza ao santo e quase o protege mais do que ele os protege. Esse povo que se organiza e faz acontecer.. E quando já é de manhã continuam lá... porque de repente nada ainda passou e são todos da mesma idade e nada mudou...E não se cansam. A festa continua. Fé e sardinha e música, daquela que nada vale, daquela que não presta mas é fabulosa, porque todos ouvem e todos dançam. Porque afinal todos retornamos lá, porque um dia morremos e todos sabemos isso. Vamos mas é aproveitar.

6/20/2008

"Finalmente, o quem vem em primeiro lugar: o povo. Por Lisboa, cada vez mais estranha ao Portugal que é profundo, mas também noutras cidades e vilas, ainda que a equipa nacional fosse mais fraca do que as anteriores e estivesse ainda pior, vi nos bairros ricos raras bandeiras, enquanto passando na avenida de Ceuta em Lisboa, de um e de outro lado, nos prédios que substituíram o Casal Ventoso, vi a maioria das varandas engalanadas com bandeiras. É duro de dizer, mas há um amor fundo à Pátria no povo humilde que vai rareando nas elites decadentes, promíscuas e estrangeiradas. Há uma dor fina que nos mói o corpo e rói o espírito, mas mantemo-nos no combate da mudança e continuamos a crer no futuro de Portugal que é sempre. funda

Esta manhã, mais cedo do que o calor que nos sua, cavando os cardos que começam a infestar o prado ainda verde, teatro do baile dos pássaros sob o céu instável, sinto, ao calcar o chão rijo da fazenda pobre, que Portugal há-de persistir. Apesar de."

Publicado por António Balbino Caldeira em 6/20/2008 01:41:00 P

6/19/2008

E estamos a perder... 2-0 ... pelo menos a programação vai voltar ao normal..

6/03/2008

Indiana Jones

Fui ontem ver o novo filme do Indiana Jones e não consigo dizer se gostei ou não. Claro que tem todos aqueles exageros de filme americano centrado no herói, mas desses exageros gostei, até porque quando vamos ver um filme daqueles não podemos esperar outra coisa. Mas aquele final não precisava de ser assim... Não deixou aquele gostinho bom depois do filme. Em vez de sair de lá a dizer que tinha gostado, saí de lá a dizer que o filme tinha uma parte em comum com o Spice World (o pior filme que eu já vi...e confesso que é a primeira vez que admito publicamente que vi o filme...). Mas o Dr. Jones, é sempre o Dr. Jones...Se virem digam-me o que acharam.

4/24/2008

Quando vi as propostas do governo para o novo Código do Trabalho pensei que, finalmente, haveria algum combate ao desemprego e principalmente ao trabalho precário. Entre todas as medidas, umas boas, outras menos boas, a que me chamou a atenção foi, obviamente ,a que se refere aos recibos verdes. Se, inicialmente, fiquei feliz por haver alguma tentativa de combate ao flagelo dos falsos recibos verdes, bastaram uns minutos para perceber que esta medida é um presente envenenado. E porquê? Pelo seguinte:

- A taxa de 5% a pagar à segurança social por parte dos "empregadores" de trabalhadores independentes continua a ser muito menor do que as dos contratados, logo continua a compensar optar pelos falsos prestadores de serviços.

-Esse custo facilmente vai recair, em parte (ou mesmo na totalidade) sobre o trabalhador. Ao empregador basta-lhe, no novo contrato de prestação de serviços, estabelecer um valor 5 % mais baixo, o que compensa duplamente pois além de retirar ao trabalhador, vai pagar 5% de um valor 5 % menor.

-O trabalhador a recibos verdes continua a pagar 24,6% à segurança social. Pouco menos do que paga actualmente.

-As vantagens de ter um trabalhador a recibos verdes vão muito além do que estar isento de pagar a segurança social. O trabalhador a recibos verdes não tem direitos. Não tem direito a subsídios de férias, natal, transporte, alimentação, etc. Não tem direito a férias. Nunca recebe horas extraordinárias. Trabalha ao fim de semana e à noite sem qualquer compensação e o facto de não ter direito a baixa a não ser que pague 32% à segurança social - e acreditem que quem tem um ordenado de, por exemplo, 500 euros não pode fazê-lo ,e se for de 1000 euros já tem que pagar 20% ao irs, o que totaliza 52% do ordenado para o estado - faz com que se evite ao máximo esta situação. Isto, além de poder dispensar o trabalhador a qualquer altura. Concluindo, continua, mais uma vez, a compensar às empresas e ao Estado contratar falsos prestadores de serviços.

- Finalmente há aqui um ponto crucial: substituir os contratos por recibos verdes é ILEGAL!! Não consigo perceber como é que um Ministro admite na Assembleia da República que comete uma ilegalidade no seu Ministério e tem conhecimento e não a combate e o país não se indigna. Estamos a falar de uma situação concreta. É ilegal. O trabalhador independente não tem horário de trabalho, não tem que realizar o trabalho no local que o empregador estabelece, não está subordinado a ordens superiores a não ser no trabalho final a apresentar. No caso de recepcionistas, por exemplo, é óbvio que é um falso trabalhador independente. A Universidade de Coimbra opta por esta via e está a cometer uma ilegalidade. Não é como combater a pobreza, que é uma luta quase abstracta, para a qual as medidas podem ou não resultar. Esta taxa vem legitimar essa ilegalidade. É como se agora eu pudesse roubar mas tivesse que pagar uma taxa por isso.

Ou seja, nos casos dos falsos recibos verdes esta medida é só fogo de vista. Não representa um verdadeiro combate. Para se combater esta situação, além das medidas dissuadoras é preciso apostar forte na fiscalização. E começar por fiscalizar o próprio Estado, o que mais viola a lei.

Relativamente às restantes medidas saúdo o governo de Sócrates. Todos sabemos que fazem parte da estratégia política para avançar, em 2009, para a maioria absoluta, mas também sabemos que não há altruísmo na política, por isso, o motivo não me interessa, venham as medidas.

3/27/2008

Sobre o amor...

Ás vezes parece que as histórias de amor só se reconhecem no fim. Quando chega aquele momento em que tudo se prova, a paciência, a coragem. E aí, o amor que esteve lá e segurou, sustentou toda uma vida, vem de novo à superfície e mostra-se em toda a sua força. Percebemos que de facto é uma coisa incrível. O amor é uma coisa mesmo incrível. Não incrível como nas histórias de encantar que acabam com o foram felizes para sempre ou até ao divórcio. Nem tem nada a ver com beleza eterna (até porque isso não existe - ouviste lili? - AH AH AH - ler as gargalhadas com ar diabólico). Não, é incrível nas suas mais pequenas manifestações. Incrível porque pode, de facto, durar toda uma vida com todo o respeito que isso implica e no fim ainda ter força para se mostrar. Incrível porque dá uma coragem sobrehumana às pessoas mais normais que conhecemos. Se calhar nunca reconhecemos as histórias de amor até o "sempre" estar perto, e não as podemos desfrutar como tal, e ainda bem, porque isso manter-nos-ia demasiado preocupados em ser perfeitos em vez de viver. Mas podemos optar por viver amando alguém...

3/04/2008

Acerto de contas

Valores que a Universidade de Coimbra me pagou este ano relativo ao meu trabalho de Janeiro e Fevereiro: O euros

Valores que eu paguei ao Estado relativo ao MEU trabalho de Janeiro e Fevereiro: 300,00 euros

Estará aqui qualquer coisa errada????...Se não tivesse os pais maravilhosos que tenho teria que ASSALTAR pessoas para poder ter um emprego digno.

A propósito, a reportagem de capa da Visão é assustadora. Reconheço-me e reconheço tantas outras pessoas que conheço nestes que aqui dão a cara e contam as suas histórias:




O que mais me irrita é achar que entre aqueles que se estão borrifando e os do "quero lá saber, eu já me safei..." (que se estão borrifando, portanto...) lamento que tanto se perca, tanta criatividade, tanta mente brilhante. Talvez alguém se revolta. Talvez alguém pague por se estar a borrifar.

3/03/2008

Fevereiro...

Acabou Fevereiro , este mês em que nasci, este mês de tudo. Ai, vida... é o óleo para mudar, será também o filtro?! Faço 27 anos, ainda não me pagaram, é a porcaria da Segurança Social..."só pode reclamar antes de fazer qualquer pagamento voluntariamente". Mas o que há de voluntário em ser roubada? Uvas sem graínha? O que raio é isto de uvas sem graínha? (Não devia ver televisão enquanto escrevo). A facilidade chega assim tão longe. Também não gosto da nata no leite mas como a côdea do pão. Há-de chegar o dia em que... "a bateria está quase a ir à vida, 'tá a perceber? Devia mudar os pneus de trás 'tá a perceber?" Quem é que disse que os mecânicos inventavam problemas na mesma medida em que somavam parcelas à conta final? Alguém disse..."Esta tampa está partida, tem que ser mudada 'tá a perceber?" Este mecânico irrita-me com esta do 'tá a perceber... "A tampa não estava partida quando cheguei..foi você que a partiu, agora cole-a com fita adesiva" "A menina é que sabe, mas uma tampa nova é barata 'tá a perceber? " Barata... Barato não se aplica a quem tem que pagar ao Estado antes do Estado lhe pagar o que deve. Porque é que não podemos simplesmente fazer acertos de contas? Por falar em acertos de contas...bom, deixemos agora isso. Só quero mudar o óleo... "A gente aconselha a mudar o filtro, 'tá a perceber?" Quais as consequências se eu não mudar? "As consequências é que a gente aconselha, 'tá a perceber?" Ó homem, mas que raio de resposta é essa. Ai meu deus... Fevereiro é o mês da matrícula do carro...como é que aquilo se chama? É o imposto único de.... de..... de.... circulação. Já fica para Março, de nada vale, a Universidade é caloteira, o Estado é ladrão. Merda de Universidade, esta de Coimbra, espero que exploda com muito fogo de artifício. Também não gosto de fogo de artifício. Deste ia gostar. E a graínha? Porque raio tiramos todas as dificuldades às crianças coitadinhas? Há-de chegar o dia em que com uma graínha engasgadas cairão e sem ar morrerão. Pelo menos não serão roubadas pelo Estado, assim, depois da grainha que um dia alguém se esqueceu de tirar.

2/12/2008

Post CC

Já passaram quase 5 meses desde que deixei de trabalhar num call-center... e cada vez que atendo o telefone ainda fico à espera de um louco aos berros do outro lado... (claro que se se tratar da Allianz, o louco aos berros sou eu - admito).

Livros


Li, há pouco tempo, este livro, o primeiro da Trilogia do Cairo. É, sobretudo, um relato da vida de todos os dias de uma família muçulmana no Egipto enquanto começava a luta pela independência. Enquanto o chefe de família, personagem ambígua e marcante, luta por manter a sua casa e a vida da sua família dentro da normalidade ( e dos costumes islâmicos), a revolução, aos poucos, vai chegando até eles. Li e deixei-me envolver completamente, graças à vivacidade da descrição que quase nos mostra as ruas, as casas, as personagens... Aconselho.

Vista da minha janela...

1/03/2008

Viva Portugal

Estava eu, nas minhas considerações de início de ano (que é como quem diz, contas à vida, literalmente) a indagar sobre porque é que tenho que descontar um total de 45 % do meu (parco, quiçá, mísero) ordenado para o Estado. Ordenado esse pago a recibos verdes pelo próprio Estado (quando de trabalhadora independente não tenho nada) quando vejo uma notícia que me elucidou e me deixou em suprema felicidade e ânsia por contribuir de forma tão generosa para propósitos mais altos: o financiamento dos partidos políticos com mais de 50 mil votos vai aumentar 5,7%. Posto isto, de que me queixo? Ainda bem que temos um Estado que zela pelo bem de todos nós. Estou certa de que tal medida (venha da indexação ao SMN ou ao raio que o parta) vai beneficiar milhões e milhões de portugueses. Talvez na próxima campanha as canetas sejam de cor, ou os aventais mais resistentes, não sei...

O ditado é velho: quem parte e reparte e não fica com a melhor parte, ou é burro ou não tem arte.

São os loucos

O que fazemos com os loucos que deixamos para trás? Os perdidos, fracos que alguma vez não se conseguiram levantar . Os que são como nós, que são fortes até não mais o serem, os que não aguentaram o tombo. O tombo que também provocámos que também podemos levar. Mas não levamos porque somos fortes, os outros são fracos. Somos responsáveis pelos loucos, os fracos? São loucos por sua culpa, são fracos. São loucos porque foram fracos. Se são fracos e não aguentam porque temos nós, fortes, de os proteger? Proteger deles próprios. Fossem eles fortes. É mais fácil ser fraco não é? E deixar que os outros tenham culpa, e deixar que outros... Por sermos fortes também provocámos o tombo. São fracos. Os fortes cuidam dos fracos. Tem que ser assim. Quando os fortes querem cuidar dos fracos.