10/20/2006

Qualquer coisa de estranho

Há qualquer coisa de estranho na forma como protestamos e nas coisas contra as quais protestamos. Há qualquer coisa de estranho na forma como aceitamos que o governo nos afogue em impostos porque há uma crise quando os ordenados mensais dos gestores de empresas públicas chegam a valores que grande parte dos portugueses nunca conseguirá ganhar numa vida inteira, em como aceitamos um sistema nacional de saúde anedótico, principalmente quando comparado com os pares europeus, em como aceitamos uma educação paga a peso de ouro com o claro objectivo de desincentivar a formação de quadros superiores (sem alternativas viáveis como tem o sistema alemão), em como aceitamos que isto é benéfico para o país pois há licenciados a mais, entre outras coisas. Mas protestamos e movemos o que for preciso para os nossos filhos não frequentarem uma escola onde há uma mulher com HIV e uma criança, seu filho, também com HIV. Porque isto não é discriminação, é uma forma (lúcida, inteligente e informada, presumo que seja assim que essas pessoas vêm a sua forma de actuar) de proteger a saúde dos nossos filhos. Há qualquer coisa de estranho na forma como não protestamos contra o preço da gasolinha ou da electricidade (ou quando ouvimos que o aumento desta é culpa do consumidor), mas ficamos indignadíssimos com a ameaça de retirada das equipas portuguesas das competições internacionais devido ao caso "Mateus" (já agora, quem é esse?). Há qualquer coisa de estranho na forma como nos nossos locais de trabalho falamos (baixinho) mal do chefe, do salário, do horário, das condições de trabalho mas quando alguém protesta alto é a essa pessoa que atiramos o calhau em vez de nos revoltarmos. Há qualquer coisa de estranho..... ou será só ignorância?? Não sei bem.

1 comentário:

Paulo Aroso Campos disse...

Há, qualquer coisa de estranho...
(repara no estranho que isto soa:
Ah, qualquer coisa de estranho...
não altera o sentido da frase!)