Pó dos pinheiros, pó de maio, causa alergias e nostalgias. É este sol que Queima, que planta saudades, acho eu, nem sei bem. Não tenho paciência para isto, mas isto bate forte quando olho para o lado. É uma espécie de nostalgia, é uma espécie de inveja, é uma espécie de passado que lá ficou. É isto que os velhos sentem? Não quero saber de Cortejos nem coisas tais, não tenho paciência para aturar bêbedos. Que incoerência a minha, eu sei mas são incoerentes as almas atormentadas pelo Mundo, como as que vão para Fátima a pé. Comove-me este povo que caminha, deixa-me irritada porque vão no meio da estrada. Tolos, não se ponham em perigo, não me ponham em perigo. (também devia ir, levar-me ao extremo do cansaço para depois descansar). Olha, que giro, vendem-se laranjas de Lamego e de Resende, aqui na nacional ao pé de Pombal, pelo menos é o que diz a placa. Algum carro de apoio aos peregrinos aproveitou a viagem e trouxe as laranjas para vender. Tem que ser, a crise não perdoa, a fé não são laranjas. Todos temos que comer. Almas atormentadas, que vendem laranjas na beira da estrada e andam pelo que acreditam. Comove-me este povo, gosto deste povo. Ás vezes. E do outro, o que bebe até cair para o lado, ao lado de quem quer que seja, que nem só a comida é alimento. Ontem enterrei um pássaro. As “minhas” crianças ajudaram-me. Tiveram pena. Eu também. Era um bebé pássaro. São pequenas as “minhas” crianças, eu não lhes devia ter mostrado o cadáver, acho eu e ensiná-las a enterrá-lo. Rezámos uma oração por ele. Uma já não quis lanchar. Coitada. Percebo. Mas havia crianças no caminho para Fátima, e daqui a um segundo, o mesmo que passou desde que vi o nascer do sol na ponte de Santa Clara naquele dia em que alguém disse para olharmos, porque num instante já não estaríamos lá, estarão elas lá. Por isso não faz mal enterrarem um pássaro. Um dia será ele pó… pó de estrelas. Será? Se calhar só dos pinheiros, pó de Maio, e a nostalgia será delas, que pela primeira vez enterraram um pássaro.
5/03/2009
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