O consumo de anti-depressivos aumentou, em Portugal, 68% e o número de suicídios 6%, desde 2001. Esta situação verifica-se paralelamente ao melhoramento dos índices de bem estar.
Este foi o tema do Fórum da Antena 1 da passada Terça-feira. Excluindo desde já a questão das razões pessoais que provocam qualquer uma destas situações, o que interessou abordar neste fórum foi a existência de condições ambientais, na nossa sociedade que se reflectem neste aumento.
Se, supostamente, temos vidas mais confortáveis, mais fáceis porque é que estamos mais deprimidos e nos suicidamos mais?
Antes de mais há que notar que hoje há mais consciência da depressão enquanto doença. Há mais pessoas a recorrer a médicos, seja ao médico de família, seja a psiquiatras, para tratar estados depressivos. Havendo uma tendência para receitar anti-depressivos em detrimento de outras terapias, há aumento deste consumo. Mas isto é apenas um pequeno factor.
Além deste há a questão da sociedade. Temos outros níveis de bem estar, mas a que preço? E que tipo de bem-estar? A sociedade é obviamente competitiva e cada vez mais individualizada, logo também estamos cada vez mais sós, principalmente aqueles que não conseguem, ou não precisam de se integrar neste ritmo de sociedade. São os nossos fracos da sociedade. São, por exemplo, os idosos... O fim do conceito de família enquanto comunidade com relações além-núcleo e dependência entre membros leva a um abandono que a nossa sociedade está pronta a absorver, através de lares, creches, ateliês de tempos livres e toda uma oferta de sítios onde podemos colocar os excedentários. Porque não podemos tratar deles, porque temos que trabalhar para podermos adquirir coisas que vão aumentar o nosso índice de bem-estar. E aumenta o bem estar material. E o nosso idoso morre de solidão algures. O sentimento de pertença a uma comunidade é um factor anti-depressão. Deixando de haver esse sentimento e esse apoio é mais difícil ultrapassar os problemas como desemprego, morte de familiares, entre outros...
Não esquecer também que os índices de bem estar aumentaram (hoje temos todos telemóveis, televisão, boas casas, aquecimento, carro, etc...), em grande parte graças a facilidade de crédito que hoje existe. Há um endividamento quase inconsciente porque tudo pode ser pago a prestações e o bem-estar material começa a parecer frágil quando as dívidas começam a ser muitas. Por vezes, este sobre-endividamento leva ao suicído...
Há, ainda, dentro deste cenário a falta absoluta de confiança nas instituições. Na justiça, na saúde, nos políticos... há a desprotecção dos que não conseguiram singrar na sociedade moderna e que não tendo esse sucesso material se vêm desprovidos de outro apoio.
Resumindo, os índices de bem estar são relativos e, ao contrário do que possa parecer, ou seja ser contraditório este melhoramento paralelo ao aumento das pessoas deprimidas, não o é. O bem estar é material, e para o alcançar, tivemos que prescindir de outras bases, que essas, sim, nos suportavam, fracos ou fortes.
Nota: um dos ouvintes do fórum fez um comentário com o qual concordei inteiramente. Que a religião é essencial na prevenção destas situações. A fé é uma terapia. E a pertença a uma comunidade religiosa é um factor de combate à solidão.
6/21/2007
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2 comentários:
A solução das religiões pode contribuir para combater a exclusão, mas não nos podemos esquecer que a religião também pode dar para o torto.
Assumo também que a existência de uma sociedade massificada e que ao mesmo tempo exalta o individualismo pode conduzir os menos preparados psicologicamente a situações de desespero e solidão.
Mais ricos e mais infelizes..hummm
Nao me chateava que me saisse o euromilhoes..só para ver ate onde ia a minha infelicidade :P
acho q o dinheiro nao implica infelecidade..basta nao deixar que ele nos "altere" a personalidade...
bjs
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