11/19/2005

Pobreza

Sempre me esforcei por distinguir a pobreza de espírito da pobreza económica, sendo a segunda (mesmo com a Crise - sim merece uma maiúscula ) mais fácil de combater. Mas por vezes, muitas vezes, andam juntas, porque, quando isso acontece, a primeira torna a segunda mais evidente, e, pior, prolonga-a. E as duas se podem medir numa evidência material, a segunda por razões óbvias e sempre aplicáveis e a primeira, apenas por vezes. Vejamos um exemplo mais recorrente: viver numa barraca, sem luz ou água, mas poder ligar aos amigos de um telemóvel de última geração. Ou vários, à medida que vão passando de moda... os amigos até podem ter água e luz, mas terem um reles telemóvel sem câmera... E será na sua casa que falarão do telemóvel do outro... antes ou depois do banho quente e de apagarem a luz. E será na barraca que o outro apreciará o telemóvel, entre os pingos que caiem das chapas que fazem a vez do telhado.
Isto tudo por uma razão: a maior àrvore de Natal da Europa!! Mais uma vez, Portugal, se esforça por mostrar ao mundo inteiro como é pequeno e ridículo, como a pobreza de espírito se apoderou do país como sanguessuga, que não faz doer, mas tira o sangue. E faz questão de mostrar essa pequenez iluminada com luzes de Natal. E estarão os nossos amigos europeus interessados na maior árvore de Natal (quem sabe invejosos....) ? Talvez pensem nisso, do alto do conforto dos seus ordenados mínimos e do seu nível de vida... talvez olhem o bobo que tem as calças rotas mas se julga o maior, porque tem um chapéu alto...


P.S. Lembrei-me agora que a alegoria dos telemóveis se aplica na perfeição... afinal temos quase tantos telemóveis como habitantes... já para não falar do dinheiro que gastamos com o Euromilhões. Acho que vou parar por aqui, começo a sentir sintomas preocupantes de espanholismo

1 comentário:

Rogrego disse...

Linda, apesar de concordar contigo em relação aos telemóveis – alguns de nós (Portugueses) vivem a apertar o cinto para ter um telemóvel de última geração cortando em despesas mais necessárias, porém, não concordo em relação ao Euromilhões!! A Razão de sermos o povo que mais aposta está directamente relacionada com o nosso baixo nível de vida e com o pessimismo instalado em relação ao futuro. Tal como a religião em algumas sociedades menos evoluídas, o Euromilhões é a necessidade que algumas pessoas têm de acreditar que podem ter uma vida melhor, de preferência pela via mais fácil…
Beijos e Saudades…

Post Scriptum: Temos de combinar um café.