1/29/2006

Harry Cavaco Potter

Portugal sempre me pareceu um terreno fértil para panaceias milagrosas; bruxas com poções do amor para pôr na sopa do outro; cartomantes que cobram 10 euros por consulta (não me perguntem como é que eu sei) e, milagrosamente, conseguem falhar tudo o que dizem; heróis instantâneos como Sopa d'avó; salvadores imortais, vindos de batalhas perdidas na história (quando na verdade só tivemos um.... o Afonso); esperanças de sucesso fáceis, como o Euromilhões (como se de sucesso se tratasse). E, afundado em crise, agarra-se à figura paternal, qual criança com medo, procurando a segurança do adulto que sabe saber mais do que ela. E acha que ele, o pai, evitará todos os furacões e tempestades, porque lhe surrurra: "eu estou aqui". Porque sabe que ele sabe, e a ignorância é uma benção. E esta mania portuguesa de procurar no senhor doutor todas as respostas reflecte-se mais uma vez nestas eleições. Votei no Cavaco Silva, votei porque o admiro principalmente enquanto homem e porque nas presidenciais é no homem que voto. Mas não esperemos que ele nos salve com a varinha mágica, porque não o fará. Ele pode vetar, pode influenciar, pode fazer aumentar o tal indice de confiança que tanto afecta o consumo e, por consequinte, a economia. Mas não vai legislar. Isto tudo só para dizer que o suster da respiração ante a expectativa do acto do salvador é demasiado pesado e evidente. O realismo nunca foi o nosso forte, e todo o peso, mesmo o abstracto, nos impede de mexer.

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