4/19/2009

Zé Coveiro

Parece que o Zé Coveiro, figura mítica lá para os lados de uma pequena vila do centro de Portugal, tinha muita pancada e pouco medo.
Conta-se que um dia o Zé Coveiro arranjou um ajudante, menos destemido para esse mórbido trabalho que era enterrar os mortos e alvo fácil para as ideias dele. Houve então um funeral na vila que, atrasando-se, chegou ao cemitério já depois do pôr-do-sol! Ora, não podendo os mortos ser enterrados depois do sol havia que guardar a urna no cemitério e tomar conta do defunto até ao dia seguinte, para ser depois enterrado. Ficou o Zé Coveiro, e o ajudante - que ajudante é para isto mesmo - encarregue da tarefa. Durante a noite a fome começou a apertar e diz o Zé Coveiro para o ajudante "Oh pá, há ali em baixo umas laranjas deliciosas. Agora que é noite ninguém nos vê se as formos roubar. Tu ficas aqui a tomar conta do defunto e eu vou lá". Note-se que na altura ainda não havia luz eléctrica. Mas o ajudante não quis tal acordo, se tinha que ficar sozinho com o defunto. Decidiram então que iria o ajudante buscar as laranjas e o Zé Coveiro ficava no cemitério. Enquanto o pobre rapaz lá ia, lembrou-se o Zé de lhe pregar um grande susto. Tirou o defunto do caixão e encostou-o à parede, no sítio onde ele devia estar! Então, deitou-se ele dentro do caixão, deixando uma fresta aberta e esperou... Chega o ajudante com as laranjas e, como mal via os contornos da noite, não dando pela troca, diz ao defunto "Toma Zé, toma uma laranja, são bem boas..." como não obteve resposta, insistiu "então mas não dizes nada, Zé? Agarra a laranja ou não queres?" Vira-se então o Zé Coveiro dentro do caixão, põe uma mão de fora e diz com voz cavernosa "Se ele não quer, quero eu!!" Pobre ajudante, mal conseguiu gritar, deixou cair as laranjas todas pela encosta do cemitério abaixo e desatou a correr até à vila, gago de tal susto! Nunca mais foi ajudante do Zé, o Coveiro.

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