3/06/2007

Crónicas de Domingo

Passa um carro lá fora, hesita... depois avança. Outro, de seguida, desta vez em sentido contrário, como quase todos os que aqui passam. É mais fácil, não havendo polícia e com pouco trânsito. A chuva continua, desenfreada, a bater numa rua que não consegue acordar. Há muito que está morta. E as lágrimas de chuva furiosas de saudade insistem em bater. Há tanto tempo. Será que não sabe que sempre esteve morta? Um quase visitante entra (quem visita museus ao domingo de manhã?). Vai directo à entrada. "Pode abrir isto para eu ver a exposição?" "Claro, mas é necessário tirar bilhete..." "Ah, então não, obrigada. Porque é que é preciso pagar?" "Para sustentar o funcionamento do museu..." O óbvio fica no ar. É assim este país... O outro ontem chegou e disse que podia entrar de graça... porque era não-sei-quem e amigo de não-sei-quem. E pensamos... quem diz se pode somos nós, e não, não pode...É assim o comportamento deste país. Os ricos com a certeza que não têm que pagar e os pobres com a certeza que têm sempre que pagar. Os pensamentos voam novamente, a injustiça, o desânimo... Como a rua que está morta há tanto tempo e a chuva que não sabe.

1 comentário:

Luís Viegas disse...

Porque é que se tem de pagar. Sim senhor. Que pergunta mais idiota.