6/16/2005

As importações aumentaram 700 % devido à invasão dos têxteis chineses. Não deixando de defender as barreiras comerciais aos produtos chineses e a aplicação de coimas por violação de algumas regras de concorrência e de comércio livre, deixo aqui alguns comentários para o nosso próprio país:

1. Já sabíamos que isto iria acontecer, mas, à bom português ficámo-nos pelo "logo se vê". As nossas fábricas não se modernizaram, não se reorganizaram a nível de gestão, não se internacionalizaram e, como se diz na gíria futebolística, quem não marca, sofre... Porque é que eu digo isto? Porque tivemos as excepções: algumas marcas portuguesas, como a Cenoura aproveitaram para se internacionalizar, e se expandir exactamente para o mercado chinês. Como? Apostando naquilo que eles não têm: Qualidade. Eles têm preços baixos e quantidades, nós podemos apostar em produtos de qualidade diferente para uma classe média alta e classe alta, que procura a qualidade dos produtos importados, nomeadamente na própria China (como fez a Cenoura com a roupa de criança).

2. Este é um problema estrutural: uma economia e um investimento assente na mão-de-obra barata, sem qualificações. Isto é uma economia típica do terceiro mundo e completamente falível, uma vez que haverá sempre hipótese de conseguir mão de obra ainda mais barata. Essa não pode ser a nossa vantagem competitiva. Aqui entra a questão da qualificação e do choque tecnológico (já agora alguém me sabe dizer o que é que o PS está a fazer quanto a mais esta promessa?). Era óbvio que mais cedo ou mais tarde as multinacionais iriam deslocalizar a produção. É por isso que são multinacionais. Temos os bons exemplos, que nos mostram o outro caminho, como a Critical Software ou a Metro Kids (ambas começaram em Coimbra).

3. Os consumidores portugueses têm aqui um papel importante: comprem produtos portugueses, sejam patrióticos (mas sem comprar bandeiras portuguesas made in china) porque os espanhóis também preferem o produto espanhol em detrimento do português. Protegam o nosso comércio tradicional, as nossas marcas. Claro que tudo isto tem a influência do poder de compra, mas o objectivo é alterá-lo.

1 comentário:

Luís Viegas disse...

Excelente texto. Quanto ao comprar produtos Portugueses, de facto seria muito bom todas as pessoas poderem fazê-lo. Mas é bem sabido que a maior parte das pessoas, ao comparar dois produtos, não olha para a nacionalidade dos mesmos. Olha para o preço. E aí perdemos sempre, ou quase sempre. Como é possível a cerveja Sagres ser mais barata em Espanha !? Ridículo.

PS - já agora, fui eu que te mandei uma mensagem sobre Hemingway. Joka